Exposição "Pintura!" - Galeria Solar Meninos de Luz
Pipa divulga Coletiva "Pintura!"
Fotos da abertura da Coletiva "Pintura!"
Este espaço é destinado à divulgação da arte em suas múltiplas linguagens, recortes históricos e temas. De forma paralela, apresento aspectos do trabalho que desenvolvo, no Rio de Janeiro.
22 de junho de 2014
14 de junho de 2014
Esporte, Futebol e Arte Contemporânea em tempos de Copa do Mundo: reflexões sobre o papel das instituições e dos/as artistas
Leda Catunda "Campeão III" Tecido e tinta acrílica 2013 |
Nas postagens anteriores, apresentamos como o
esporte ficou à sombra na produção da Arte Moderna e início da Arte
Contemporânea no Brasil, em comparação com a presença desta temática, por exemplo,
no continente europeu, no período do Modernismo. Para tal, destacamos alguns
artistas brasileiros que produziram obras no início do século XX (1920-1940) e
nas décadas da ditadura militar [1960-1980].
Como se posiciona a Arte Contemporânea neste
contexto de manutenção do esporte à sombra de sua produção? Gostaríamos de destacar como o esporte
poderia estar passando por um terceiro resgate na produção da Arte brasileira
hoje; porém, a partir de uma reflexão crítica sobre as funções das instituições
e do/a artista hoje. Este texto surgiu de uma reflexão sobre esta
questão, potencializada com recente reportagem de um periódico carioca[1], que
destacou o despreparo de nossas instituições culturais com a aproximação da
Copa do Mundo de Futebol no Brasil, por não promoverem eventos – espetáculos
teatrais, musicais, exposições de arte, entre outros – que tematizassem o
futebol.
Aqui, nos
debruçaremos sobre o campo das Artes Visuais e a suposta escassez destacada
pela mídia impressa de eventos que abordem o esporte (e o futebol) como tema,
para refletirmos sobre a sociedade contemporânea, em virtude do público presente
no Brasil este mês criar uma demanda na busca de eventos sobre a modalidade que
mais envolve a sociedade em nível planetário, acompanhando o futebol como
praticantes amadores, atletas semiprofissionais, profissionais de diversas
áreas e serviços (MURAD, 2012)[2].
Tais pessoas acompanharão o esporte pela mídia impressa, virtual e
televisionada; além da presença nos estádios.
Cabe
refletirmos, então, como poderemos encontrar este fenômeno mundial no campo das
Artes Visuais? Ao contrário da escassez de eventos sobre futebol, suposta pela
mídia, um breve levantamento nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo nos
permitiu encontrar cerca de dez mostras individuais ou coletivas[3], montadas
por ocasião da Copa do Mundo de Futebol. Entretanto, no contexto cotidiano da
Arte Contemporânea no país, o esporte (ou o futebol) não é um tema encontrado
correntemente em exposições pelo país afora, salvo em ocasiões como a atual.
Em nosso entendimento,
eventos artísticos que tematizam o esporte enquanto elemento de reflexão, devem
ultrapassar os limites dos calendários dos eventos esportivos, como a Copa do
Mundo e os Jogos Olímpicos Modernos, fato que ocorre no Brasil nestes meses de
junho e julho e será retomado em 2016. O esporte, enquanto instituição social
que reproduz ou contesta os valores hegemônicos circulantes, precisa ser
apropriado pela Arte Contemporânea de forma ativa, possibilitando aos
espectadores/as pensarem o contexto no qual esta modalidade está inserida.
A título
de exemplo, ao refletir sobre questões universais, como gênero ou raça, por que
as Artes Visuais não podem explorar a exclusão das mulheres na sociedade a
partir de sua exclusão no futebol, seja no países islâmicos, onde mulheres são
proibidas de praticá-lo; seja em países onde a modalidade ainda se configura
como uma área de reserva masculina, onde mulheres sofrem com preconceitos e
enfrentam barreiras para sua inserção e permanência no esporte; ou, por fim, seja
em relação ao preconceito racial e à violência presente nos campos de futebol?
Artistas
que possuem uma investigação que utilize o esporte (ou o futebol) como eixo
norteador, ou que o utilizaram em algum momento de sua produção, necessitam
refletir sobre como suas obras são reconhecidas enquanto arte no cotidiano - seja
através de sua inserção nas instituições, via salões e exposições; seja na sua comercialização,
através de galerias - e não somente em momentos como o que passamos, no caso da
Copa do Mundo, quando inúmeras instituições organizam eventos “temáticos” sobre
o futebol. É relevante pensar sobre como estas instituições, por vezes, desvalorizam
a produção artística que tematiza o esporte enquanto elemento de investigação
nos demais períodos do calendário.
Apesar de
algumas das exposições coletivas - enumeradas em nota desta postagem - reunirem
dezenas de artistas que tematizam a “bola” ou o “futebol”, a Arte Contemporânea
brasileira ainda não explora a produção existente entre artistas nacionais. Faz-se
necessário que instituições, críticos/as, curadores/as, galeristas e artistas
se debrucem sobre o esporte e o elejam enquanto elemento presente na obra de
arte, não somente em tempos de Copa, mas no cotidiano de suas investigações.
Assim, pensamos que a Arte pode alcançar um de seus objetivos: ser uma via de emancipação
do espectador em relação à leitura crítica do mundo, a partir do consumo da
Arte.
Para tal,
os profissionais do campo das Artes Visuais precisam estar atentos não somente
às oportunidades e convites que surgem em momentos como a Copa do Mundo de
Futebol (2014), a Copa das Confederações (2013) e os Jogos Olímpicos (2016), na
direção de comporem curadorias, escreverem textos críticos, montarem exposições
ou serem aqueles/as que produzirão as obras: os/as artistas. É necessário
construir uma reflexão sobre a real presença deste objeto na Arte Contemporânea
hoje, conferindo visibilidade à produção de nossos/as artistas, que em algum
momento se debruçaram sobre o tema do esporte e do futebol para produzirem
obras significativas, em contextos específicos da história do país, tais como
os já apresentados nas postagens anteriores; além daqueles que tem produzido
novas obras, como já mencionamos em postagem neste site[4]: Nelson
Leirner, Fernando Ancil, Frederico Dalton, Leda Catunda, Marina Reinghantz, Raul
Mourão, Marcelo Amorim, Vik Muniz, Felipe Barbosa, Regina Silveira, entre outros/as.
Entretanto,
nos parece que se de um lado, vários/as artistas investigam um fenômeno social
como o futebol em suas produções desde o início da Arte Contemporânea, em
meados da década de 1950 (ARCHER, 2008)[5]; as
instituições não têm se interessado em catalogar, organizar e expor de forma
significativa e contundente tal produção, além das datas relativas a eventos
esportivos. Isso possibilitaria que os espectadores, não somente no momento
histórico atual, quando o país sedia um evento que causa impactos políticos
relevantes ao Brasil; mas de forma contínua, pudessem refletir sobre como o
futebol, enquanto instituição, pode ser apropriado pela Arte Contemporânea de
forma crítica e reflexiva, explorando, p. ex., o seu potencial educativo, por
meio de projetos educacionais interdisciplinares que levassem estudantes para
“consumirem” a Arte de forma orientada, com vistas à formação ampliada,
emancipada e crítica de crianças e adolescentes, no que tange ao futebol, ao
esporte e à arte como via para que tal objetivo fosse atingido.
[1]
VELOSO, C. Procura sem oferta. O Globo,
Segundo Caderno, Rio de Janeiro, p. 2, 11/05/2014.
[2]
MURAD, M. Para entender a violência no
futebol. Benvirá: Rio de Janeiro, 2012. 237p.
[3]
Entre as exposições individuais e coletivas montadas nos estados do Rio de
Janeiro e São Paulo, destacamos: “Futebol no campo ampliado” – Eduardo Coimbra,
Paço Imperial, Rio de Janeiro. “Pelada” – Leonardo Finotti, Galeria Luciana
Caravello, Rio de Janeiro. “Bola de Futebol” – Nicola Constantino, Casa Daros,
Rio de Janeiro. “Heterotipia” – Priscilla Monge, Casa Daros, Rio de Janeiro. “Quadrado
Mágico” – Felipe Barbosa, Galeria Sérgio Gonçalves, Rio de Janeiro. “Tatu:
futebol, cultura, adversidade da caatinga” – coletiva, Museu de Arte do Rio
(MAR), Rio de Janeiro. “Por cima do futebol” – Marcillio Gazzineli, Sociedade
Fluminense de Fotografia, Niterói, RJ. “Futebol, paixão brasileira” – coletiva,
Museu Internacional de Arte Naïf (MIAN), Rio de Janeiro. “Arte Naïf, a bola da
vez” – coletiva, Centro Cultural dos Correios, Rio de Janeiro. “O artista e a
bola” – coletiva, OCA-Ibirapuera, São Paulo
[4] DEVIDE,
F. P. Futebol e arte contemporânea
brasileira. Disponível em: http://fabianodevide.blogspot.com.br/2013/06/futebol-e-arte-contemporanea-brasileira.html
Acesso em 14 jun. 2014.
[5]
ARCHER, M. Arte Contemporânea: uma
história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
6 de junho de 2014
Esporte, Futebol e Arte Contemporânea no Brasil: 1960-1980
Em 2012, ao assistir a palestra sobre Arte Contemporânea,
Esporte e Gênero, com foco na Teoria Queer,
proferida pela professora Jennifer Doyle[1]
(Universidade da Califórnia), na Faculdade de Educação da UFRJ, a mesma
destacou a Performance no campo do esporte, especificamente o futebol,
com foco na participação das mulheres nesta área de reserva masculina. No
debate com a palestrante, questionei a escassez de trabalhos de arte
contemporânea que tematizassem as questões de gênero, utilizando o esporte como
foco. Como exemplos dessa escassez, mencionei a Bienal de São Paulo e a exposição
"Gender Check"[2], ambas
ocorridas em 2010, esta última reunindo artistas contemporâneos da Europa
Oriental, com obras com a temática de gênero.
Sobre a manutenção desta temática à sombra por
instituições - museus, galerias etc., e pessoas envolvidas com a arte
contemporânea - curadores/as, galeristas, professores/as e artistas, Doyle
afirmou que tais instituições tem interpretado a temática como desinteressante,
menos valiosa ou irrelevante para o campo das Artes Visuais.
“Campo de Jogo” óleo s/ tela 245x209cm 1989 |
Fazendo uma analogia
com o que ocorre, em geral, no campo acadêmico, onde também estou inserido, a produção
do conhecimento na área das Ciências Humanas e Sociais, como a História e as
Ciências Sociais, passaram a reconhecer o esporte, sobretudo o futebol, como
rico suporte para efetuar análises e interpretações macro e microssociais,
auxiliando na compreensão de aspectos políticos, culturais e históricos de
nossa sociedade apenas recentemente, como a violência (MURAD, 2007) [3]. Entretanto, ainda conheço
historiadores e sociólogos que não são bem vistos ao se debruçarem sobre o
esporte - geralmente o futebol - enquanto tema de estudo e investigação pelas
mesmas razões enumeradas por Doyle.
Resgatando, então, aspectos da postagem anterior,
“Esporte e Arte Moderna: reflexões iniciais às vésperas da Copa do Mundo de
Futebol”, e dando-lhe continuidade, gostaria de destacar alguns artistas
brasileiros que tematizaram o futebol – e o esporte – em suas obras a partir da
década de 1960, resgatado este tema no conjunto de obras que circularam naquele
momento na arte contemporânea brasileira, que coincidiu com o início do período
da ditadura militar.
“Pelé” Liquitex s/ tela 120x120cm 1970. |
De alguma forma, alguns destes artistas - Fúlvio
Pannacchi[4], Cláudio
Tozzi[5],
Rubens Gerchman[6], Roberto
Magalhães[7] e Cildo
Meirelles[8] - vislumbraram
o esporte e o futebol, especificamente, como um tema presente na sociedade da
época, assim como o seu fenômeno junto à cultura das massas. Tais artistas produziram
obras entre 1960 e 1980, período político conturbado, quando com o regime
militar instituído, liberdades individuais foram cerceadas.
“A dança do futebol” Acrílica e óleo s/ tela 245x190cm 1997 |
Desses artistas, Melo (2009)[9]
faz menção a Claudio Tozzi, Roberto Magalhães e Rubens Gerchman, entre outros,
como artistas brasileiros que participaram de exposições relevantes no período,
como Opinião 65 e a II Bienal da Bahia, em 1968, fechada por militares e
recentemente aberta em Salvador, após 46 anos de intervalo.
O autor destaca que Claudio Tozzi foi um representante
da arte de combate e reflexão, utilizando diversas técnicas e suportes,
apropriando-se de imagens da cultura de massa, como o tema do esporte, no qual
produziu obras onde o futebol e o boxe estiveram presentes. Já Roberto
Magalhães, se destacou com o Prêmio Aquisição I Jovem Gravura Nacional, com a
obra “O atleta”, em 1964, na qual, como em outras obras que tematizaram o
esporte, demonstrava seu fascínio pela figura do herói e ídolo esportivo.
“Os 99 heróis do estádio” Nanquim e guache s/ papel 50x65cm 1965 |
Rubens Gerchman, por fim, foi um artista que
produziu diversas obras sobre o esporte, com ênfase no ciclismo e o futebol;
este segundo, representado como um elemento das massas, com sua narrativa
crítica e denunciadora, ancorada nas dimensões sociológica e política da arte.
Segundo Melo (op. cit.), em sua “fase negra” (déc. 1960), encontramos pinturas
com multidões que cobriam a superfície das obras, das quais algumas versaram
sobre o futebol, como “Os 99 heróis do estádio” e “Futebol Flamengo campeão”,
ambas de 1965.
“Os super-homens” acrílica s/ madeira 70x100cm 1965 |
Nesta década, o artista representou o futebol enquanto elemento
social, utilizando-o como meio para promover uma crítica à massificação do ser
humano na sociedade de consumo capitalista daquele momento. Entre as obras do
período, destacam-se “Os super-homens”, de 1965; e “Futebol-linguagem”, de
1967; que estabelecem o diálogo entre imagens e fatos, de forma a tecer uma
crítica aos ídolos construídos pela mídia (MELO, 2009).
No contexto da arte brasileira neste período, o
esporte promoveu o debate sobre questões da sociedade contemporânea, como a
cultura de massa e o culto ao herói e aos ídolos. A tematização do futebol na
investigação de alguns artistas, neste cenário, indicou que este esporte era um
fenômeno social apropriado pela arte, conferindo identidade ao conjunto da obra
de alguns artistas, num contexto histórico específico: os anos da ditadura
militar.
Importante sublinhar que se no período entre
1960-1980, encontramos um primeiro resgate do esporte (e do futebol) enquanto
tema na arte contemporânea brasileira; encontramos a presença do esporte e do
futebol em diversas obras de artistas contemporâneos da atualidade, tais como:
Felipe Barbosa, Raul Mourão, Nelson Leirner, Fernando Ancil, Leda Catunda, Marina
Reinghantz, Vik Muniz, Regina Silveira, entre outros/as. A presença do esporte
e do futebol na Arte Contemporânea hoje, assim como a sua apresentação por
instituições de arte é tema de nossa próxima postagem.
[1] http://fromaleftwing.blogspot.com/
Blog organizado pela professora Jennifer Doyle, que aborda, especificamente, as
questões de gênero inerentes à participação das mulheres no futebol. No link
"labels", é possível encontrar 15 posts onde a pesquisadora tece
algumas interpretações em relação a como a Arte Contemporânea vem abordando a
questão.
[2] MUMOK. Gender Check: femininity and masculinity
in the Art of Eastern Europe. Cologne: MUMOK, 2010.
[3] MURAD, M. A violência e o futebol: dos estudos clássicos aos dias de hoje. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
[3] MURAD, M. A violência e o futebol: dos estudos clássicos aos dias de hoje. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
[4] “Jogo de
Futebol”, óleo s/ madeira, 10x13cm, 1979.
[5] “A luta”,
liquitex s/ tela, 84 x 84cm, 1970; “A
dança do futebol”, acrílica e óleo s/ tela,
245x190cm, 1997; “Pelé”, liquitex s/ tela, 120x120cm, 1970.
[6] “Futebol-linguagem”
[torneio início], acrílica s/ tela, grama plástica e silk-screen, 200x200cm,
1967-1972; “Palmeiras e Flamengo”, 197,5 x 282cm, 1965; “Os 99 heróis do
estádio” nanquim e guache s/ papel, 50x65cm, 1965; “Os super-homens”, acrílica
s/ madeira, 70x100cm, 1965; “Os heróis do estádio”, 1966; “O futebol – Flamengo
campeão”, 244x122cm, 1965
[7] “O que é
isso, uma bola?”, pastel s/ cartão, 66x97cm, 1982; “Mulheres atletas”, óleo s/
tela, 73x100cm, 1982; “Atleta gigantesco”,
óleo s/ tela, 100x73cm, 1987; “O atleta”, xilogravura, 30x30cm, 1964.
[8] “Campo
de Jogo”, óleo s/ tela, 245x209cm, 1989.
[9] MELO, V.
A. de. Esporte Lazer e Artes Plásticas: diálogos. Rio de Janeiro:
Apicuri/Faperj, 2009. 209p.
2 de junho de 2014
Futebol e Arte Moderna: reflexões iniciais às vésperas da Copa do Mundo de Futebol
Em 2010, escrevi no site sobre o esporte como
tema mantido à margem da investigação e das reflexões da arte contemporânea: http://fabianodevide.blogspot.com.br/2010/11/na-semana-passada-participei-da.html
Umberto Boccioni Dinamismo de um jogador de futebol Óleo s/ tela 193,2 x 201cm 1913. |
Gostaria de retomar o debate agora, no momento quando
o esporte, notadamente o futebol, recebe atenção da sociedade em função da Copa
do Mundo, a ocorrer este mês em diferentes estados do Brasil. Assim, em junho,
buscarei postar alguns textos breves com os seguintes objetivos: i) abordar a
presença do esporte e das práticas corporais diversas na Arte Moderna e
Contemporânea, com foco na produção nacional; ii) refletir sobre as ações de
instituições – galerias, museus, fundações etc. – na atenção às investigações
artísticas que possuem o esporte ou o tangenciam como eixo norteador; e iii)
analisar o papel do artista enquanto sujeito produtor de sentidos que podem tanto
contemplar as demandas do mercado em momentos como o atual; quanto, através da
sua investigação, promover uma reflexão sobre o mundo através do esporte
enquanto tema de sua investigação.
Thomas Eakins Abrindo contagem Óleo s/ tela 264 x 234cm 1898 |
Alguns artistas modernos, como Édouard Manet[1],
Peirre-Auguste Renoir[2],
Henri de Toulouse-Lautrec[3],
Winslow Homer[4], Thomas
Eakins[5], Pablo
Picasso[6],
Umberto Boccioni[7], Amadeo
Souza Cardoso[8] Vicente
do Rego Monteiro[9], entre
outros, abordaram o esporte e algumas práticas corporais nas suas obras na
virada do século XIX para o século XX, quando este era um elemento cultural
relevante em diversos países, incluindo o Brasil (MELO, 2009)[10].
Aqui, entre
tantas modalidades esportivas, o futebol, especialmente, tem sido nomeado como
o “ópio do povo” ou uma “paixão nacional”, uma expressão que circula no
cotidiano pelos meios de comunicação e diferentes tipos de linguagem. Tais
expressões podem ser interpretadas tanto no sentido de conferir ao futebol uma identidade
nacional e um valor cultural relevante; quanto podem sugerir uma função de “anestesiar”
a sociedade para os males que a afetam, alienando-a; ainda que ambos os
aspectos não sejam mutuamente exclusivos e possa conviver juntos no cotidiano da
sociedade brasileira. Já dizia a letra de Wilson Simonal[11], Aqui é o país do futebol:
“Brasil está vazio na tarde de Domingo, né?
Olha o sambão, aqui é o país do futebol
(...)
No fundo desse país
Ao longo das avenidas
Nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
Nesses noventa minutos
De emoção e alegria
Esqueço a casa e o trabalho
A vida fica lá fora
Dinheiro fica lá fora
A cama fica lá fora
A mesa fica lá fora
Salário fica lá fora
A fome fica lá fora
A comida fica lá fora
A vida fica lá fora
E tudo fica lá fora.”
Em contrapartida ao cenário europeu, os esportes
em geral não surgem na produção artística brasileira no final do século XIX e nas
primeiras décadas do século XX com a mesma recorrência. No auge do Modernismo, apenas
alguns artistas como Castagneto, Almeida Júnior, Joaquim Miguel Dutra, Oscar
Pereira da Silva e Benedito Calixto produziram obras com indícios dos esportes praticados
na época pela sociedade brasileira, tais como a vela, o hipismo, o remo, o
turfe, a patinação e as regatas. (MELO, op. cit.)
Vicente do Rego Monteiro Goleiro Óleo s/ painel 90 x 120 cm 1930 |
Segundo o autor, foi a partir da década de 1920, que o esporte aparece na produção nacional, pela primeira vez, com obras de Anita Malfatti[12], tematizando
a ginástica; Vicente do Rego Monteiro, que produziu obras com imagens de
lutas[13],
o tênis[14],
os atletas[15] e o
futebol[16]; Cândido
Portinari, que tematizou o futebol em diversas obras[17]; Francisco
Rebolo[18] e
Cícero Dias, que possui obras com a natação e o futebol[19]; todos
representantes da Arte Moderna no Brasil. Ainda assim, enquanto tema, o esporte não possui a recorrência de outros, de maior relevância nas obras dos artistas da época.
Portanto, se no contexto europeu, o
esporte surge nas obras de diferentes movimentos artísticos durante o
Modernismo, no século XIX e início do século XX; no Brasil esse
elemento cultural apareceu tardiamente, ainda que presente no cotidiano das
elites desde o século XIX, com o turfe, o remo, o ciclismo, a natação, a
esgrima e a ginástica enquanto práticas cotidianas, incentivadas com fins
higiênicos e eugênicos (LUCENA, 2001[20];
DEVIDE, 2012[21]).
Enquanto objeto de investigação ou tema
representado em algumas obras, o esporte e as práticas corporais diversas
retornam em um segundo momento com maior frequência à produção artística nacional, no período demarcado pela passagem do Modernismo
à Arte Contemporânea, nas décadas de 1960 e 1970, quando artistas brasileiros
como Rubens Gerchman, Roberto Magalhães, Cláudio Tozzi, Glauco Rodrigues, entre
outros, produzem obras durante o período da ditadura militar, muitas delas,
tematizando o futebol.
[continua...]
[1] Corridas em Longchamp, óleo s/ tela,
43,9x84,5cm, 1866.
[2] Almoço no restaurante Fournaise (o
almoço dos remadores), óleo s/ tela, 55,1 x 65,9cm, 1975.
[3] O ciclista Michaël (A corrente Simpson),
1896.
[4] Um jogo de croquete, óleo s/ tela,
60,3x87,9cm, 1866.
[5] Abrindo contagem, óleo s/ tela,
264x234cm, 1898 e Busto de homem (o atleta), óleo s/ tela, 92 x 73,3cm, 1909.
[6] Os boxeadores, caneta e tinta preta,
16,9x24,3cm, 1911.
[7] Dinamismo de um jogador de futebol, óleo
s/ tela, 193,2x201cm, 1913.
[8] Os cavaleiros, óleo s/ tela, 100x100cm,
1913
[9] Tênis, óleo s/ tela, 1928.
[10] MELO,
V. A. de. Esporte Lazer e Artes Plásticas:
diálogos. Rio de Janeiro: Apicuri/Faperj, 2009. 209p.
[11] SIMONAL,
W. Aqui é o país do futebol.
Disponível em: http://www.vagalume.com.br/wilson-simonal/aqui-e-o-pais-do-futebol.html.
Acesso em: 02 jun. 2014.
[12] “Torso/Ritmo
(1915/1916), carvão e pastel s/ papel, 61x46,6cm.
[13] “Combate”
(1927), óleo s/ tela.
[14] “Tênis”,
(1928), óleo s/ tela.
[15] “Os
atletas, (1930), óleo s/ Eucatex, 122x91cm.
[16] “Goleiro”
(1930), óleo s painel, 90x120cm.
[17] “Jogo
de Futebol em Brodowski”, (1933), óleo s/ tela, 49,5x124cm; “Futebol”, (1935),
óleo s/ tela, 97x130cm; “Jogando Futebol” (1939), nanquim s/ papel, 15,5x16,5cm
e “Futebol”, (1940), óleo s/ tela, 130x160cm.
[18] “Futebol”,
(1936), óleo s/ tela, 86x36cm.
[19] “Mulher
nadando”, (1930), aquarela e nanquim s/ papel, 67,3x51cm; “Goleiro”, (1920),
óleo s/ tela.
[20] LUCENA,
R. de F. O esporte na cidade.
Campinas: Autores Associados/CBCE, 2001. 153p.
[21] DEVIDE,
F. P. História das Mulheres na natação feminina no século XX: das adequações às
resistências sociais. São Paulo: Hucitec, 2012. 302p.
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