27 de março de 2012

Notas sobre BOURRIAUD, Nicolas. O que é um artista (hoje)?

BOURRIAUD, Nicolas. O que é um artista (hoje)? Arte & Ensaios. Rio de Janeiro, ano X, n. 10, p. 77-78, 2003. Publicado originalmente na Beaux Arts Magazine, em 2002.

O artigo do crítico e curador de arte, Nicolas Bourriaud, organiza-se em quatro tópicos que analisam o lugar e a atitude do artista na sociedade contemporânea. O primeiro deles interpreta o artista como um “avião furtivo”, imerso na cultura, analisando e coletando imagens numa sociedade do espetáculo, ampliando a noção de ateliê, como o espaço público onde se coleta “matéria prima” diversificada para a obra [não se resumindo ao espaço privado, onde se criam imagens a partir de tintas e pincéis]. Em seguida, o autor apresenta o artista como um “intruso”, por atribuir novos sentidos às obras de arte sacralizadas, ao habitar novos campos culturais, além das fronteiras das artes visuais, inaugurando uma atitude interdisciplinar ou, nas palavras do autor, atuando com diferentes “campos de signos, de produção (...) uma espécie de semionauta: um inventor de trajetórias entre os signos” na cultura (p. 77). O artista como “parasita”, termo considerado inadequado por Bourriaud, pressupõe que o artista manipula os signos ordinários e cotidianos que escolhe investigar, no processo criativo de construção da obra, produzindo alguma outra coisa. Finalizando suas reflexões, o autor apresenta o artista como “diretor”, selecionando o casting de pessoas ou objetos para seus vídeos ou fotografias, dessacralizando a arte, ampliando o uso dos suportes, o que, segundo Bourriaud, incomoda.

24 de março de 2012

Notas sobre trabalhos da série "Janelas" [2012], exposta na Caza_Arte_Contemporânea/RJ

Em 2011, o processo criativo abordou práticas corporais de reserva masculina e feminina, explorando a polissemia produzida pela imagem, por interpretar que a produção de sentido se dá por uma lógica “aberta” e “plural” [1],  num processo de interlocução entre a intenção do artista, as contingências espaço-temporais e as condições de aprendizagem do espectador [2]. A partir dessa investigação, os trabalhos indicaram aberturas. A relação entre corpo, práticas corporais e masculinidades se modificou: uma vez que as imagens não eram provenientes de fotografias do contexto das práticas corporais; passaram de uma imagem em movimento/ação para outra estática/passiva, e apresentaram uma atmosfera introspectiva. Em virtude disso, o tema do “silêncio” foi assumido no final de 2011, como novo fio condutor do projeto, a partir de uma série de trabalhos com imagens de homens em reflexão.
Na série “Janelas” [s/ título, 21x29cm cada, 2012] - da qual os trabalhos da exposição "Afinidades: a escolha do artista", na Caza_Arte_Contemporânea fazem parte - o termo é utilizado em sentido figurado [abertura, rasgo, fresta] e os personagens de diferentes gerações surgem “vazios” [sem preenchimento], no contexto de uma arquitetura opressora, fria e silenciosa. Os ângulos desse espaço confinado variam, produzindo, por vezes, uma volumetria abstrata em decorrência da paleta de cinzas.
 Nesse espaço, o espectador identifica janelas não convencionais, posicionadas em diferentes planos, em locais e formatos que constituem uma triangulação, buscando expressividade. Tais janelas, azuis, estabelecem um diálogo entre os espaços interno e externo, a partir de “frestas”; ampliam a noção primeira de céu ou luz, podendo ser interpretadas como a própria morte, explorando a idéia de vanitas, passagem do tempo, transcendência e espiritualidade, produzindo ruídos na leitura inicial do espectador. Os trabalhos da série são realizados através da impressão com carbono e pintura guache sobre papel. Os personagens, sem identidade, apresentam-se como “esboços” de um estado de vazio existencial.


[1] DANTO, A. Arte sem paradigma [1994]. Arte & Ensaios. Rio de Janeiro. Ano VII, n. 7, p. 198-202, 2000.
[2] SIMÃO, L. V. Da prática da arte à prática do artista contemporâneo. Concinnitas. Rio de Janeiro, ano 6, v. 1, p. 142-157, 2005.