FLUSSER, V. Filosofia da Caixa Preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Hucitec, 2011.
I. A imagem
Para o autor, imagens são superfícies que pretendem representar algo, traduzindo processos em cenas, tendo origem na capacidade de abstração [ou imaginação]. Podem ser interpretadas como uma mediação entre o homem e a realidade. Num scanning, o observador vagueia sobre a superfície da imagem, encontrando significados resultantes de duas intencionalidades: do seu produtor [emissor] e do seu espectador [receptor]. Imagens oferecem, então, um espaço interpretativo, onde o olhar do espectador circula e focaliza elementos centrais e secundários – de acordo com suas intencionalidades – construindo um contexto de relações e o que o autor denomina “consciência mágica”. Flusser adverte, entretanto, que ao invés de se servirem das imagens, os homens têm vivido em função delas, caracterizando uma idolatria e esquecendo o motivo da sua produção: orientá-los no mundo. Com o advento da escrita linear no segundo milênio a.C., surgiu o que o autor chama de “consciência histórica”, capaz de “rasgar” as imagens, significando o mundo [ou a realidade] indiretamente. A escrita passou a ser um “meta-código” da imagem, um tipo de “legenda” que a decifra. Entretanto, o autor ressalta que a relação entre texto [conceituação] e imagem [imaginação] é dialética, pois embora textos possam explicar imagens de forma conceitual, “rasgando-as”; imagens podem ilustrar textos, afim de “remagicizá-los”, fazendo com que a conceituação do texto e a imaginação da imagem se reforcem mutuamente. A partir da crise dos textos pelo que o autor denomina de “textolatria” e exemplifica com o esvaziamento do discurso científico, os textos não mais significam imagens, surgindo as “imagens técnicas”, aquela produzida por aparelhos [fotografia].
II. A imagem técnica

IV. O gesto de fotografar
Um “movimento de caça” na “floresta da cultura” é como Flusser define o gesto de fotografar: um “gesto caçador”, onde aparelho e fotógrafo são uma unidade. Para o autor, o fotógrafo contesta as intenções de sua cultura; logo, “decifrar” fotografias pressupõe decifrar condições culturais dribladas, que não estão na superfície da imagem. As categorias fotográficas são espaço-temporais, tendo como centro o “objeto fotografável”, cercado de pontos de vista. Tais categorias estão inscritas no “programa do aparelho” e são manipuláveis pelo fotógrafo, que as escolhe por conveniência, ou seja, o aparelho funciona de acordo com as intenções do seu agente, ainda que estejam limitadas pelo número de categorias disponíveis no aparelho. Logo, é uma escolha “programada”. O fotógrafo só pode fotografar o “fotografável”, o que está inscrito no aparelho, não podendo fotografar processos. Entretanto, recorre a critérios alheios ao aparelho: estéticos, políticos, epistemológicos, manipulando seu output. Isso se dá pelo gesto técnico, que obriga o fotógrafo a transcodificar sua intenção em conceitos, codificados em imagens. Logo, fotografia é um ato conceitual, porque é técnico; é imagem de conceito transcodificado em cena. O fotógrafo constantemente se detém em dúvidas fenomenológicas e hesita quando se depara com o limite de uma categoria fotográfica, pois percebe outros pontos de vista acessíveis no programa. Assim, sua práxis é “programada”, por agir dentro das categorias do aparelho; e “pós-ideológica”, por reconhecer a possibilidade de escolhas em detrimento de um único ponto de vista. O gesto fotográfico é decisivo e apenas uma série de fotografias é capaz de revelar a intenção do seu autor, pois o produto final – imagem técnica – é resultante de uma série de decisões, não podendo ser identificada na superfície de uma fotografia isolada.
e "o aparelho"?
ResponderExcluirCaro leitor/a (?), faça breve síntese deste capítulo e me envie que edito e podemos publicar. Abç. Fabiano Devide.
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