24 de julho de 2011

Notas sobre o texto "O ato criador", de Marcel Duchamp

DUCHAMP, M. O ato criador. In: BATTCOCK, G. (Org.). A nova arte. São Paulo: Perspectiva, 1986. p. 71-74.

O breve, mas relevante texto de 1957, do inventor do “ready made”, o francês Marcel Duchamp, focaliza o complexo processo de criação do artista, assim como os aspectos envolvidos nele, com destaque para a importância do público. Para o autor, há dois pólos na criação artística: o artista e seu público. Para Duchamp, o artista baseia-se na intuição quando concebe sua obra, distanciando-se da objetividade e do que chama “auto-análise, falada ou escrita” sobre a mesma (p. 72). O artista depende de seu público para adquirir “valor social” e ser incluído na História da Arte, que tende a atribuir valor à obra do artista de forma distinta daquela que o artista tende a fazê-lo. É a partir dessa aparente divergência que Duchamp levanta a questão: “Como poderá ser descrito o fenômeno que conduz o público a reagir criticamente à obra de arte?” (p. 72). No ato criador, o artista passa da intenção à realização e concretização das idéias, a partir de processos subjetivos e complexos, de avanços e recuos. O resultado desse processo – a obra – confere nitidez à distância entre a intenção inicial do artista e a sua realização. Esse mecanismo subjetivo que produz o que o autor denomina “arte em estado bruto”, seja ruim, boa ou indiferente, é denominado por Duchamp de “coeficiente artístico”. Para o autor, o artista “falha” por sua inabilidade em expressar a sua intenção integralmente, fazendo com o que realiza se distancie daquilo que intencionou inicialmente. Para Duchamp, o coeficiente artístico pode ser explicado por “uma relação aritmética entre o que permanece inexpresso embora intencionado, e o que é expresso não-intencionalmente” (p. 73). Tal conceito traz à tona a relevância do público no ato criador, pois este “não é executado pelo artista sozinho; o público estabelece o contato entre a obra de arte e o mundo exterior, decifrando e interpretando suas qualidades intrínsecas e, desta forma, acrescenta sua contribuição” (p. 74).

2 comentários:

  1. Parabéns Fabiano! Vc me ajudou muito! estava buscando as informações completas deste texto de Duchamp e só encontrei a citação com todos os dados completos na sua página. Vivas! Paulo Freire já dizia que uma boa bibliografia (com todos os dados!) e uma ação democrática. Vc me ajudou a chegar mais perto do texto que conhecia sem a fonte completa. Obrigada! Mirian Celeste Martins

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    1. Que bom que o site lhe ajudou com esta informação! Este texto é um clássico e nem sempre fácil de encontrar. Boa leitura!

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