28 de novembro de 2010

15 de novembro de 2010

Notas sobre a palestra JENNIFER DOYLE sobre Arte contemporânea, esporte e gênero, UFRJ/RJ

Na semana passada, participei da palestra da professora Jennifer Doyle (Universidade da Califórnia), na Faculdade de Educação da UFRJ. Na ocasião, a pesquisadora proferiu um discurso sobre arte contemporânea, esporte e gênero [com foco na Teoria Queer]. Doyle interessa-se especificamente sobre Performance e no campo do esporte, por futebol [1]. O foco da palestra foi gênero, performance e futebol feminino. Um ponto nevrálgico da fala da palestrante me fez refletir sobre a ausência do esporte como tema de reflexão na arte contemporânea [apesar de alguns artistas modernos abordarem o esporte e algumas práticas corporais nas suas obras]. No momento do debate com a palestrante, questionei sobre a escassez de trabalhos de arte contemporânea que tematizassem as questões de gênero, utilizando o esporte como foco. Como exemplos dessa escassez, mencionei a Bienal de São Paulo de 2010 e a exposição "Gender Check", ocorrida esse ano com artistas contemporâneos da Europa Oriental que trabalham com a temática de gênero. Jennifer teceu rápidos comentários sobre a manutenção desta temática à sombra por instituições [representadas por museus, galerias etc.], e pessoas envolvidas com a arte contemporânea [curadores/as, galeristas e artisitas], por ser interpretada como desinteressante, menos valiosa ou relevante. Tal interpretação corrobora com o que ocorre, em geral, na área das Ciências Humanas e Sociais. Somente recentemente a História e a Sociologia passaram a reconhecer o esporte como rico suporte para efetuar análises e interpretações macro e microssociais, auxiliando na compreensão de aspectos políticos, culturais e históricos de nossa sociedade. Não raro, entretanto, ainda conheço historiadores e sociólogos que não são bem vistos ao se debruçarem sobre o esporte [geralmente o futebol] enquanto tema de estudo e investigação pelas mesmas razões enumeradas por Jennifer. Como fica a posição da arte contemporânea nesse contexto? Convido os leitores e leitoras que acompanham o Blog a tecerem alguns comentários sobre este tema, que me parece uma lacuna a ser explorada.

[1] http://fromaleftwing.blogspot.com/ Blog organizado pela professora Jennifer Doyle, que aborda, especificamente, as questões de gênero inerentes à participação das mulheres no futebol. No link "labels", é possível encontrar 15 posts onde a pesquisadora tece algumas interpretações em relação a como a Arte Contemporânea vem abordando a questão.

24 de outubro de 2010

CCBB: metáforas do masculino e feminino no ISLÃ

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB/RJ), está apresentando a exposição "Miragens". Com 58 obras de 19 artistas islâmicos contemporâneos, provenientes de coleções e galerias norte-americanas e européias, "Miragens" inclui vídeos, pintura, fotografia e objetos.
De forma geral, as obras confrontam os estereótipos que a cultura ocidental construiu sobre a oriental. Destaco, especificamente, alguns trabalhos que tematizam questões relacionadas à identidade masculina, como o mito do "herói", a guerra [violência] e a força física; e à identidade feminina, como o "silenciamento social" das mulheres na cultura islãmica.


SENER OZMEN
Supermuçulmano
 


LAILA SHAWA
Meninos soldados
 


KAMEL YAHIOUI
Os vigias [em memória de Tahar Djaout]
 




SHIRIN NESHAT
 


HALIL ALTINDERE
Miragens
[Da trilogia Mesopotâmia]






SHIRIN NESHAT
 

13 de outubro de 2010

O lúdico no brinquedo, na brincadeira, no jogo e no esporte na 29a BIENAL, 5a PARALELA e no MAM/SP

Associado ao brinquedo[1], à brincadeira[2], ao jogo e ao esporte, o “lúdico” tem como característica a espontaneidade, criatividade, alegria, prazer, fruição, presentes em práticas corporais diversificadas. Pode ser interpretado como uma manifestação cultural, inerente ao ser humano [não somente à cultura infantil], estando vinculado às práticas sociais, potencializando a existência humana e a sua comunicação com a realidade. A cultura lúdica tem sido extirpada da infância [e da vida adulta]. Da mesma forma, suas manifestações têm sido “controladas” e “confinadas” a tempos, espaços e práticas legitimadas e associadas ao consumo pela indústria cultural. Como a arte contemporânea pode resgatar a dimensão do lúdico na vida cotidiana [até mesmo no processo criativo]? Visitando a 29a Bienal de Arte Contemporânea e a V Paralela, em São Paulo, causou-me surpresa a presença de alguns trabalhos que utilizaram o brinquedo, a brincadeira, o jogo e o esporte como tema central ou secundário, resgatando um pouco da ludicidade necessária. Seguem as imagens.


[1] Objeto com dimensão material, suporte da brincadeira, que estimula o imaginário.

[2] Ação que a criança desempenha sobre o brinquedo



Leonilson, Brasil, 1990
DAS TRÊS ARMAS [do vôlei, do futebol]





Moshekeua Langa, África do Sul, 2005-2006
SEM TÍTULO




Carlos Garaicoa, Cuba, 2009
LAS JOYAS DE LA CORONA (Estadio de Chile)




Rosângela Rennó, Brasil, 2010
MENOS VALIA [troca-troca na Pça XV, Rio de Janeiro]






Alessandra Sanguinetti, Estados Unidos, 2010
LAS AVENTURAS DE GUILLE Y BELINDA Y EL ENIGMÁTICO SIGNIFICADO DE SUS SUEÑOS
 

Marcelo Amorim, Brasil, 2010
da série INICIAÇÃO
  


Claudio Perna, Itália, 1979
FOTOGRAFIA ANONIMA DE VENEZUELA
 

Lais Myrrha, Brasil, 2010
PÓDIO PARA NINGUÉM
 

Marina Rheingantz, 2010
OBERHOLZ
 

Marcelo Amorim, Brasil, 2010
Da série INICIAÇÃO
 

Ernesto Neto, Brasil, 2010
DENGO

Ernesto Neto, Brasil, 2010
DENGO
 

Palle Nielsen, Dinamarca, 2010
O MODELO









  



7 de outubro de 2010

Notas sobre "Processo Criativo" III

Criadores fazem algo que inaugure uma nova linguagem e que a sua platéia vai questionar: “-Eu já vi isso?” Ícones que levaram a sua linguagem às últimas conseqüências modificaram a linguagem da área, “sacudindo” as certezas.

Uma carreira demonstra a capacidade de redefinir-se. Pode-se avaliar o impacto da obra de um artista a partir da sua capacidade de “voltar-se para o escuro”, redefinindo-se, valorizando a vulnerabilidade das novas informações na carreira.

O processo de categorização pode tornar-se um bloqueio à criação. Uma obra que resiste à nomeação/classificação prende a atenção e perturba o sistema de categorias, ficando “suspenso entre duas categorias”.

Bons artistas sabem que suas escolhas têm conseqüências. É preciso pensar na intenção e na intenção retroativa [realizada após a experimentação]. O processo criativo não funciona por exclusão de planos previamente construídos, mas por experimentação e retroalimentação. Pressupõe olhar o mundo de forma menos passiva, olhando para o óbvio e enxergando outras possibilidades.

A arte não compete com a realidade, mas deve nos fazer pensar sobre o que nos esquecemos dela.

O criador produz trabalhos que aumentam a espessura do presente pelo processo de “saturação”. Distendem o momento do agora, em detrimento de viver do passado ou projetando o futuro.

Se o artista é incapaz de se distanciar e analisar o seu trabalho, não terá capacidade para crescer e progredir. O criador sente-se confortável em se sentir aquém em algumas áreas, percebendo o quanto ainda pode se desenvolver.

O bom artista expõe seu trabalho como conseqüência do mesmo. Aquele que se esforça no processo de produzir a obra com o objetivo de expô-la, trabalha na ótica da ”finalidade” e não da “conseqüência”.

Pessoas criativas tiveram a “ingenuidade” de pensar que poderiam fazer algo que teria impacto sobre a realidade. Foram curiosas e motivadas intrinsecamente, redefinindo-se em constante processo de acumulação.

6 de outubro de 2010

Notas sobre "Processo Criativo" II


A motivação intrínseca é importante para o ato criativo. O criador deve procurar uma área de atuação que traga significado, entusiasmo e motivação para “fazer a diferença” e provocar mudança na linguagem da área.

Há uma tendência em mantermos o que estamos fazendo no mesmo patamar/padrão até que alguém faça a diferença, provocando a mudança. Na verdade, não fazemos muita coisa porque desistimos ao não confiarmos em nós mesmos e esperarmos a aprovação do olhar do outro.

Durante o processo criativo, há desconforto e infelicidade na maior parte do tempo. A recompensa é o prazer da descoberta. Para isso, deve-se exercitar a "rebelião", recusando-se a repetir todos os dias, as mesmas regras. Acertar sempre seria morte do processo criativo.

Há um momento no qual o artista precisa afastar-se e olhar o seu trabalho de fora, afastando-se da sua excessiva subjetividade, transformando a experiência. Nesse momento, é relevante recorrer ao olhar do outro.

O artista não tem controle sobre os sentidos produzidos pela obra, o que não significa que o artista ou o observador são ruins porque encontram/produzem sentidos diferentes. O leitor é fundamental para o “acontecimento” da obra.

No processo criativo, é preciso uma “faísca” para a produção da nova idéia. Nesse contexto, o olhar do outro e o aleatório são importantes. Ao esgotar o seu repertório, o artista deve fazer novas inserções de idéias, a partir de um processo anárquico de absorção de novas informações. Reinventar-se é importante para continuar criando.

Na arte, ao invés de dar um “grito no escuro” sobre as suas angústias, o artista deve construir uma linguagem pessoal relacionada à obra. Nenhuma arte meramente pessoal é arte. No máximo será uma arte terapêutica, que não terá fôlego para se tornar uma grande arte.

 

5 de outubro de 2010

Notas sobre "Processo Criativo" I

As notas abaixo listadas são fruto de parte das anotações realizadas em 2009, na ocasião do curso "Processo Criativo", com o professor Charles Watson, na EAV/Pq Lage. Sem o intuito de concordar/discordar das mesmas, as compartilho com os leitores/as para convidá-los/as a refletirem sobre seus próprios processos.

O processo criativo pressupõe a capacidade de transitar entre os pólos objetivo e subjetivo. É preciso “estranhar” o que se está fazendo e dar espaço para a “surpresa” no fazer artístico.

O artista tem êxito quando transforma a linguagem do “eu” numa linguagem universal: a obra “acontece”.

Pessoas com medo têm pensamentos sabotadores. Errar é fundamental, pois dar conta das imperfeições nos faz caminhar. A perfeição é a morte e a instabilidade é importante para produzirmos.

Pessoas curiosas superam as "normas" de seu pensamento com mais criatividade, gerando coisas novas, utilizando/coletando informações no cotidiano, a partir de um processo “anti-entrópico”, onde não há estabilidade; como o desconforto do artista durante o processo criativo.

A pessoa criativa tem capacidade de análise, interpretação, avaliação, curiosidade, experimentação, e da instabilidade constrói coisas novas. O papel do criador é “solucionar problemas” a partir do “desconforto” e da instabilidade.

O processo criativo depende de: 1. uma linguagem simbólica; 2. uma pessoa ou grupo que produz algo diferente nessa linguagem (a coloca em crise); e 3. um grupo de peritos que interpreta e incorpora e endossa o novo.

A pessoa criativa preocupa-se com a linguagem por estar imersa nela. Nesse caso, não produz para a platéia comum, mas para aqueles/as que têm conhecimento específico para "ler" sua obra.

Às vezes, estragamos um trabalho por afetos a questões do trabalho que não são importantes para o todo. O trabalho cria densidade com base na experiência, o que presupõe, também, a possibilidade de sua desconstrução e reconstrução permanentes.

23 de setembro de 2010

Cruzando fronteiras e (in)visibilidades

Uma das discussões inerentes aos estudos de gênero tem sido a crítica à relação linear da sociedade heterossexista sobre a relação causal entre sexo biológico > identidade de gênero > identidade sexual [1]. Tal normatividade contribui para que se configure um quadro de preconceito quando homens ou mulheres transpõem fronteiras de gênero, inserindo-se em atividades que a sociedade não associa ao seu sexo biológico. A inserção dos homens na dança é um exemplo desse cruzamento de fronteiras. Ao se inserirem numa área de reserva feminina, são questionados em termos identitários, como se houvesse uma relação causal entre a prática corporal e a construção da identidade sexual.

Série Bailarinos I
"Pausa"
Têmpera sobre papel (32x44cm)
2010


Os novos trabalhos que apresento no Blog abordam esse cruzamento de fronteiras, de alguma forma, na mesma intenção dos anteriores, nos quais explorei a linguagem metafórica das imagens de jogadores e lutadores. Nesses trabalhos, tenho buscado possibilidades de invisibilidade da imagem, explorando os planos de figura e fundo, o que de certa forma, representa a invisibilidade dos homens que rompem fronteiras inserindo-se nessa área de reserva feminina.


[1] BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

10 de setembro de 2010

E a luta continua...




"Golden Fall" 2010
Acrílica sobre tela 140 x 170cm
  
Após a execução da série "Lutadores" sobre papel e em pequeno formato, o último trabalho é uma hibridização de dois dos anteriores, realizado com acrílica sobre tela, em formato maior.

9 de setembro de 2010

Série Lutadores: novos trabalhos




Série Lutadores IV 2010
"S/ Título"
(Têmpera sobre papel 32x44cm)
  


Série Lutadores III 2010
"S/ Título"
Têmpera sobre papel 32x44cm
  

8 de setembro de 2010

Luta: um ritual na construção da masculinidade

A vivência de práticas corporais de contato físico como o futebol e as lutas têm sido interpretadas como um 'ritual de passagem' na socialização e transformação dos meninos em homens, 'machos' [1]. Suportar a dor e as lesões são elementos constituintes da identidade masculina, simbolizando a virilidade e honra entre aqueles que buscam ser mais fortes do que os demais na competição esportiva. Nessa arena, lutar é mais do que vencer o oponente. Enquanto verbo que indica combate ou ação a favor/contra algo, 'lutar' ancora sentidos associados à identidade masculina, contribuindo para que a inserção do homem na prática da luta possa ser interpretada como via de construção dessa identidade.




Série Lutadores I
"S/Título" 2010
(Têmpera sobre papel 32x44cm)
  




Série Lutadores II
"Queda"
(Têmpera sobre papel 32x44cm)
  

No processo criativo em andamento, minha investigação tem se debruçado sobre imagens de lutadores em ação. Especificamente a luta turca com óleo, uma espécie de luta greco-romana na qual os lutadores untam-se com óleo de oliva, dificultando a "pegada" do adversário e consequentemente, a queda no solo. A luta com óleo é o esporte mais popular do país e reúne milhares de lutadores no Kirkpinar Oil Wrestling Festival, um evento secular de três dias de duração, que ocorre desde o século XIV, mantendo viva a tradição de homenagear os guerreiros da antiguidade.

[1] DUNNING, E. O desporto como uma área masculina reservada: notas sobre os fundamentos sociais na identidade masculina e as suas transformações. In.: ELIAS, N. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992, p. 389-412.

Por uma interpretação "aberta" da imagem

Meu processo criativo, então, passou a abordar práticas corporais consideradas de reserva masculina [1], a saber: inicialmente o futebol e posteriormente a luta.

Tenho buscado explorar, a partir da metáfora, a polissemia produzida pela imagem, pois interpreto que não há uma “verdade” ou sentido a priori na linguagem (e na obra do artista), de forma a que a mesma tenha a intenção de dizer “isso ou aquilo” como algo “fechado” [2]. A produção de sentido se dá no dialogismo entre a intenção do autor/leitor (artista/receptor); depende da história de leitura de quem lê (observa a obra) a partir de uma lógica “aberta” e “plural” [3].

Nas artes visuais, esta interlocução, por vezes, se dá pela filtragem do crítico/a ou do curador/a. Sendo assim, apesar do artista ter uma intenção ao produzir a obra, tende a perder o controle sobre a polissemia que a mesma produz a partir da interpretação de seus receptores. Na produção de sentido da obra, deve haver interlocução entre a intenção do artista, as contingências espaço-temporais e as condições de aprendizagem do espectador [4].

[1] DEVIDE, F. P. Gênero e Mulheres no esporte: história das mulheres nos Jogos Olímpicos Modernos. Ijuí: Unijuí, 2005.
[2] ECO, U. Interpretação e superinterpretação. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2005.
[3] DANTO, A. Arte sem paradigma [1994]. Arte & Ensaios. Rio de Janeiro. Ano VII, n. 7, p. 198-202, 2000.
[4] SIMÃO, L. V. Da prática da arte à prática do artista contemporâneo. Concinnitas. Rio de Janeiro. Ano 6, v. 1, p. 142-157, 2005.

7 de setembro de 2010

Arte contemporânea, esporte e identidade de gênero

Na investigação atual, uma das questões que busco problematizar com o trabalho é a reflexão sobre como o esporte pode se configurar, paradoxalmente, como um espaço de culto à masculinidade hegemônica e ao comportamento homofóbico e também de legitimação de práticas sociais homoeróticas [que por ocorrerem na arena esportiva, não são contestadas pela sociedade heterossexista].

Embora a homofobia seja um mecanismo de controle da manifestação de afeto entre homens na sociedade contemporânea, o esporte providencia oportunidades para que eles se socializem e vivenciem situações de intimidade de forma legítima em alojamentos, vestiários, concentrações pré-competições, bares, entre outras situações nas quais há ausência feminina [1].

Nessa arena, a masculinidade heterossexual tende a ser construída coletivamente, a partir da prática de interpretar a homossexualidade e a feminilidade como "não-masculinas" [2] e hierarquicamente inferiores. No universo homossocial do esporte, a negação de qualquer impulso homoerótico é um elemento chave desta elevação da superioridade heterossexual. O esporte moderno é uma instituição genderizada, pois suas estruturas e valores dominantes refletem o medo e a necessidade de uma masculinidade ameaçada. O esporte simboliza a estrutura masculina de poder dos homens sobre as mulheres e finalmente, constitui e legitima uma organização social heterossexista da sexualidade.

O esporte - sobretudo aquelas modalidades consideradas bastiões da masculinidade - deve ser interpretado como instituição social que reflete questões sociais circulantes na sociadade contemporânea. Nesse contexto, como a arte contemporânea [especificamente a pintura] pode levantar questões sobre os mecanismos pelos quais esse paradoxo se manifesta, causando conflitos?


"Jogadores II" 2010
Acrílica sobre tela 100 x 70cm


"Jogadores I" 2010
(Acrílica sobre tela 138x50cm)

[1] LOURO, G. L. Pedagogias da Sexualidade. In.: Louro (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Autêntica: Belo Horizonte, 2001. p. 7-34.
[2] MESSNER, M. A. Power at Play: sports and the problem of masculinity. Boston: Beacon Press, 1992.

EAV 2010.1 > Primeiras "pistas"...

A partir das primeiras observações sobre os trabalhos, busquei delimitar mais o projeto atual de investigação. Hoje estou refletindo como as artes visuais podem explorar as relações entre a identidade de gênero e o corpo na sociedade contemporânea, onde os sujeitos transpõem fronteiras de gênero e inauguram novas masculinidades e feminilidades, subordinadas àquelas hegemônicas.

O processo criativo vem direcionando a investigação para como as práticas corporais ancoram novos sentidos associados a essas identidades numa sociedade patriarcal, onde o esporte têm sido, paradoxalmente, uma instituição que ancora sentidos de uma masculinidade hegemônica e sinaliza a existência de outras masculinidades subordinadas. Ou seja: explorar como práticas corporais, interpretadas como instituições que reproduzem valores sociais circulantes, ancoram características dessa masculinidade “plural” e em (des)construção.

"Releitura de Alair I" 2010
(Técnica mista 23 x 31cm)
O início do projeto partiu de fotografias de Eadweard Muybridge [séc. XIX] e Alair Gomes [séc. XX]. O primeiro, inglês, pioneiro por no século XIX, produzir estudos sobre o movimento dos animais e seres humanos, fotografando em sequência, por exemplo, lutadores; enquanto o segundo, artista brasileiro, conhecido pelo vasto material fotográfico sobre o corpo masculino, produzido nas décadas de 1970-80.

"Releitura de Alair II" 2010
(Técnica mista 23 x 31cm)



O processo se iniciou a partir da confecção de desenhos (com impressão de carbono sobre papel, têmpera e fita adesiva) com vistas a explorar as possibilidades de abordagem do tema e posterior produção utilizando outros mediuns.


"Não meça altura antes de cair" 2010
(Técnica mista 23 x 31cm)

"Releitura de Alair III" 2010
(Técnica mista 23 x 31cm)


EAV 2010.1

Em 2010, ingressei no Módulo avançado de pintura, sob orientação dos professores Ivair Reinaldim e Daniel Senise. Após o período de experimentação em 2009, elaborei um projeto de investigação para direcionar a produção na EAV.

Optei por discutir as questões relacionadas às identidades de gênero e suas relações com o corpo na sociedade contemporânea. A identidade de gênero se constrói na interação de fatores internos, do sujeito; e externos, do meio social [1]; são múltiplas, transitórias e contingentes, com caráter instável, histórico e plural , rompendo a noção de “masculinidade” ou “feminilidade” como identidades fixas [2], pois o sujeito é responsável pela construção de sua identidade em termos de práticas socialmente sancionadas.

Identificamos uma cultura de consumo atrelada ao corpo que o supervaloriza, dimensiona e esquadrinha. No que tange à identidade de gênero masculina, a aparência do corpo contemporâneo ancora valores como virilidade, dominação, hierarquia, força e poder, construindo “anatomias de consumo”, presentes no cotidiano: brinquedos, TV, publicidade, jogos eletrônicos, desenhos e a prática corporal, que servem de material para minha investigação [3].



"Ônus patriarcal" 2010
(Acrílica sobre tela 140 x 180cm)
 
 
Os primeiros trabalhos de pintura apresentados no Módulo foram concebidos a partir da idéia de contestação da "masculinidade hegemônica", com imagens que abordavam o "ônus patriarcal", no sentido conferido por Bourdieu:
“o privilégio masculino é também uma cilada (...) impõe a todo homem o dever de afirmar (...) a sua virilidade (...) entendida como capacidade reprodutiva, sexual e social, mas também como aptidão ao combate e ao exercício da violência (...) o homem ‘verdadeiramente homem’ é aquele que se sente obrigado a (...) fazer crescer sua honra (...) na esfera pública” [4].

[1] CONNELL, R. W. Políticas da masculinidade. Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 185-206, 1995.
[2] MESSNER, M. A. Power at Play: sports and the problem of masculinity. Boston: Beacon Press, 1992.
[3] FRAGA, A B. Anatomias de consumo: investimentos na musculatura masculina. Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 25, n.2, p 135-150, 2000.
[4] BOURDIEU, P. A Dominação masculina. Bertrand: Rio de Janeiro, 1999. p. 64.

A EAV em 2009.2: experimentando

No segundo semestre de 2009, após o curso de “História da Arte Contemporânea”, visitei o MET, MoMA, New Museum e Whitney Museum, além de algumas galerias em Nova Iorque. Esse processo foi fundamental para compreender algumas informações sobre a produção artística relativa à arte moderna e contemporânea, por vezes "abstratas" quando visualizamos as obras impressas em páginas de livros de História da Arte, sem vivenciarmos o impacto da obra sobre o espectador, sobretudo em função de sua dimensão.


Ver in loco trabalhos clássicos de artistas modernos e contemporâneos que admiro, tais como: Duchamp, Man Ray, Oppenheim, Matisse, Picasso, Pollock, Newman, Rauschenberg, Johns, De Kooning, Warhol, Bacon, Baselitz, Hockney, Peyton, Basquiat, Rothko, Hooper, Freud, Kosuth, Beuys, Hesse, Richter, Saville... me fez repensar a pintura e explorar outros materiais, explorando as idéias de “tensão” e “limite” em novos trabalhos.


Sem Título (Técnica mista 30 x 50cm) 2009

"Como anda o seu desejo III" 2009
(Técnica mista 30 x 30cm)

"O que há de mim no outro I" 2009
(Técnica mista 20 x 20cm)

"O que há de mim no outro II"
(Técnica mista 20 x 20cm)

"Infância resguardada" 2009
(Técnica mista 40 x 60cm)

"In memoriam" 2010
(Técnica mista 40 x 60cm)

A EAV em 2009.1: experimentando

Ao iniciar na EAV, em 2009.1, produzi trabalhos "experimentais", sem uma linha de investigação definida. Minha intenção era me reaproximar da pintura, explorando diferentes temas e possibilidades de expressão através da figuração.




Família I - 2009 (Acrílica sobre tela - 130X145cm)
 



"Solidão" 2009
(Acrílica sobre tela 90 x 140cm)
 

Apresentação pessoal

Minha relação com a Arte iniciou na década de 1980, quando fui inscrito por meus pais em um curso de pintura óleo no ateliê de Consuelo Fabrino, em Curitiba [1985]. No ano seguinte, estudei pintura no ateliê de José Ramon e desenho com Ronaldo Antunes, em Teresópolis, quando interrompi as atividades.
Graduei-me em Licenciatura em Educação Física, me doutorando em 2003, realizando pesquisas na área de Estudos de Gênero no Esporte.
Retomei a pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage [EAV-RJ] em 2009. Na EAV, ingressei no curso “Pintura II” (João Magalhães) e “História da Arte Contemporânea” (Pedro França), ampliando meus conhecimentos e ingressando numa zona de “desconforto” ao perceber a pluralidade de linguagens que a arte contemporânea possibilita, desde a efervescência das produções em Nova Iorque, nas décadas de 1950/60.
No mesmo ano, ingressei no curso “Processo Criativo” (Charles Watson), tendo acesso ao processo de alguns artistas contemporâneos brasileiros, além de receber informações sobre o processo cíclico de desconforto-criação-estabilidade necessário à produção artística.
Em 2010, ingressei no Módulo Avançado de Pintura (Ivair Reinaldim e Daniel Senise), com o objetivo de direcionar a produção a partir de um projeto de investigação alinhado com os aspectos que venho investigando na carreira acadêmica: os estudos de gênero no esporte.