26 de maio de 2021

RESET 21 - Centro Cultural dos Correios/Niterói

Divulgo exposição coletiva "RESET 21", na qual estarei participando com outrxs artistas, sob a curadoria de Osvaldo Carvalho e a coordenação de Luiz Badia e Roberto Tavares.
Local: CENTRO CULTURAL DOS CORREIOS-Niterói - Datas: 5 de junho a 17 de julho.
Horários: Seg-Sex das 11-18h e Sáb das 13-17h.
 

RESET 21

“Pior que esquecer a história,
é distorcê-la para avivar o ressentimento.”
Peter Brown

Uma exibição coletiva com vários artistas, que envolve múltiplas abordagens de técnicas e de processos, enseja leituras não lineares entre os trabalhos em si. Na prática, há diversos agentes que implicam uma produção artística, e que parecem atuar de maneira aleatória. Porém, quando essa produção tem como leitmotiv reflexões reunidas ao longo de um período pandêmico, sob a égide da insegurança e do medo, da desinformação e do despreparo, de ações negacionistas e de descrédito à ciência, ao que se juntam ações de grave impacto sobre o meio ambiente, aumento do desemprego, pobreza crescente, isolamento social, entre inúmeras outras mazelas de repercussão global, invariavelmente ela recairá no âmbito dessas vivências, pois são respostas mais prementes, exigidas pela situação.
A proposta foi conceber uma exposição em que esses artistas apontassem, em suas faturas desenvolvidas durante a pandemia, de que maneira esse evento adverso sensibilizou seus processos criativos. É um período que requer ainda cuidados, que provoca ansiedade e incerteza, mas também um tempo de estudo e imersão, no qual esses artistas elaboraram e guardaram suas realizações. A finalidade é justamente trazer à tona aquela produção represada e dar um reset em suas atividades. Resetar, um anglicismo absorvido pela língua portuguesa, é desligar e ligar o computador porque “deu tilt”, computador que se tornou o novo meio de vida que muitos encontraram para trabalhar, tanto quanto se distrair.
Por meio virtual foram refeitas as conexões e as relações, o mundo digital ganhou dimensões inimagináveis, para o bem e para o mal. A sensação desconfortável de ter falsas informações corroendo nossa lucidez, distorcendo fatos, é um desses exemplos malignos. Peter Brown, em recente entrevista para o jornal El País, nos diz que “não há nada mais trágico que um homem que perdeu a memória”, e que, “distorcer a história é ainda pior do que esquecê-la”. Os artistas presentes em RESET 21 lidam com essa tênue linha, a cada dia mais difusa, de modo a não deixar que se perca a essência de nossa humanidade, para que não haja “lembranças pela metade”, conforme apregoa o historiador irlandês, e que diminui “nossa capacidade de nos interpor e criticar as falsas memórias históricas”. Resistir às intempéries causadas por aqueles que lidam com a vida com antolhos ideológicos, é tarefa para os que caminham de mãos dadas com narrativas sólidas, tijolo após tijolo, na construção de uma sociedade que se reconheça em todos os seus, sem exceção, esse é o pressuposto que caracteriza o artista neste início do século 21.
Assim é que restaurar a confiança nos haveres e deveres de nossos antepassados, não pelos erros, não pelos acertos, mas pelo aprendizado que nos legaram, faz dessa mostra um pequeno símbolo de esforço para destravar o HD de nossas almas entorpecidas, para que nosso sistema operacional se restabeleça, estejamos novamente acessíveis, sem nenhum vírus detectado.

Osvaldo Carvalho (curador)