Janelas abertas - por Fabiano Devide <http://experienciapintura.blogspot.com.br/>
“O silêncio é a “respiração” (o fôlego) da significação; um lugar de recuo necessário para que se possa significar (...). Reduto do possível, do múltiplo, o silêncio abre espaço para o que não é “um”, para o que permite o movimento do sujeito. (...) não é mero complemento da linguagem. Ele tem sua própria significância. (...) é garantia do movimento dos sentidos. Sempre se diz a partir do silêncio”(ORLANDI, E. P. As formas do silêncio: do movimento dos sentidos. Campinas: Unicamp, 2002. p. 13;23)
Série Silêncios S/ Título Acrílica s/ tela 50 x 50 cm 2011 |
A investigação atual surgiu a partir da série “Silêncios” [2011], que trouxe novas interrogações e indicou aberturas, pois a relação entre corpo, práticas corporais e masculinidades, na qual minha produção vinha se debruçando, modificou-se em vários aspectos: o surgimento de imagens provenientes de fora do contexto das práticas corporais, as imagens estáticas e passivas, assim como a atmosfera silenciosa, reflexiva e introspectiva.
A partir daí, meu processo costuma iniciar com trabalhos de pintura sobre papel em pequeno formato. O uso do papel como suporte tem servido como processo, via de apropriação, aprofundamento, negociação, interpretação daquilo que passou a ser o fio condutor da investigação: o “silêncio”.
A pintura sobre o papel ocasionou o surgimento de outra série – “Janelas” – a qual tenho apresentado este ano em diferentes espaços e que estará na coletiva “Experiência Pintura”. O processo tem o “silêncio” e sua possibilidade de produção de sentidos, como fio condutor, a partir do qual a série “Janelas” tem sido um desdobramento.
De imagens garimpadas no ambiente virtual, passei a produzir as próprias fotografias daquelas cenas que me impactam em algum fragmento do cotidiano, geralmente em viagens. A partir daí, desloco o personagem que “congelei” na imagem fotográfica para uma caixa, cuja arquitetura opressora, fria e silenciosa o aprisiona, num tempo de desaceleração, contemplação e espera.
Os anônimos personagens captados originalmente na fotografia são transferidos para o papel parcialmente, através de uma impressão por carbono, como “esboços” de um estado de vazio existencial. Por isso, opto por não preenchê-los com tinta, pigmento [ou conteúdo]. Posiciono as janelas – azuis - em diferentes planos, com vistas a estabelecer um diálogo entre dentro/fora, como “frestas” por onde entra [ou sai] aquilo que este personagem aguarda sem pressa, diante desta janela aberta.
por Fabiano Devide, Rio, agosto, 2012.
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