10 de maio de 2017

Fotografia e Artes Plásticas: Histórias e Interações - Parte 2 - Ateliê da Imagem/RJ

Em continuação ao post anterior, aqui apresento anotações da segunda metade do curso ministrado pelo artista e professor Marcos Bonisson, no Ateliê da Imagem, no Rio de Janeiro.

Aula 5 - 5 abril 2017. (anos 1960/70)
A época compreendida pelas décadas de 1960/70 trouxe consigo a crise sobre os suportes - pintura, escultura, fotografia, vídeo, performance, objeto, convocando a se pensar a Arte como linguagem e um campo de experimentação em expansão. No contexto do Movimento da Contra Cultura que se inicia nos Estados Unidos, durante a Guerra do Vietnã; e o Movimento de Maio de 1968, em Paris; algumas descobertas se tornaram relevantes, como a pílula anticoncepcional, a chegada à Lua e o movimento feminista. Todas essas mudanças sociais e políticas geraram um impulso criativo em todas as faces da Arte: Música, Literatura, Teatro, Cinema, Artes Visuais... No Brasil, o contexto da Ditadura Militar desencadeou uma produção artística densa, com artistas como H. Oiticica, A. Barrio, L. Pape, L. Clarck, A. Dias, G. Rodrigues, F. Gullar, Ivan Serpa, entre outros artistas que originaram movimentos como a "Nova Objetividade", o "Concretismo", o "Neoconretismo", o "Cinema Novo". - Dica de filme: "Sociedade do Espetáculo", do diretor: Guy Debord - LinkSociedade do Espetáculo
Neste contexto, para A. Danto, a Arte Contemporânea é produzida sem a existência de uma "narrativa mestra". Contemporâneo como um período de "desordem informativa", mas de grande "liberdade estética" [1], o que pôde ser constatado no conjunto da obra de alguns artistas, sobretudo baseados em Nova Iorque, conforme enumeraremos a seguir.

  • Andy Warhol, artista norte-americano, produziu uma obra que questionava a sociedade de consumo e as grandes celebridades, reproduzindo-as serigraficamente. Entre suas obras, visualizamos "Brillo Box (1964), "Campbell´s Soap", algums obras da série "Disasters", imagens de serigrafias de "Marlyn Monroe", assim como seu cinema experimentais, p. ex, com o filme "Empire".
  • Link: "Sleep" (1963): Sleep (1963)
  • Ed Ruscha foi pioneiro em produzir "livros de artista" com tiragem limitada. Produziu fotografias de postos de gasolina norte-americanos, à noite, assim como casas da Sunset Boulevard, que se tornaram pinturas de grande escala, feitas com projeção.
  • Yves Klein foi um artista que utilizou vários meios, incluindo a fotografia, como em "Salto no Vazio". Sua obra clássica é a performance com música, mulheres modelos nuas e tinta, que gerou as "Antorpometrias". Criou o azul que patenteou como "IKB".
  • Link: Yves Klein - Antropometrias: Anthropométrie de l'époque bleue (1960)
  • Joseph Beuys (1921-1986) foi um artista que não reconhecia a performance como tal, denominando-a de "ação". Entre as obras observadas, vimos "Como explicar pintura a uma lebre morta" (1965) e "I like America and America likes me" (1974).
  • Link: I like America and America likes me: I like America and America likes me
  • Robert Smithson foi um dos percursores da "Land Art", com sua "Spiral Jetty" (1970), realizada em Great Salt Lake, Utah, uma espiral de pedras sobre um lago, com cerca de 500 metros de extensão por 5 metros de largura, por onde passava um caminhão para despesar as pedras.
  • Link do filme: Spiral Jetty de R. Smithson 
  • Walter de Maria é outro representante dos artistas da "Land Art" com obras icônicas, como "Duas linhas paralelas no deserto de Mojave" (1968) e "Lighting Field" (1971-1977), realizada no deserto do Novo México.
  • Link do filme:  "Land Art: Celebrating the work of Michael Heizer, Robert Smithson and Walter De Maria" - Land Art: M. Heizer, R. Smithson e W De Maria
  • Christo e J. Claude foram um casal que produziu grandes instalações em monumentos e espaços naturais, como "Pont Neuf", em Paris (1985), "Wrapped Reichstag", em Berlim (1995), "Running Fence" (1975), na California, e Surrounded Islands" (1983), em Biscayne Bay, Miami.
  • Link do filme "Christo and Jean Claude": Christo and Jean Claude - Abu Dhabi Institute
  • Bruce Nauman produziu diversas performances, como "O artista como fonte" (196-), registrada em fotografia; assim como "Mapping the studio" (2002).
  • Gordon Matta Clark apresentou um trabalho engajado social e politicamente, indo contra o sistema e denominando o que chamou de "anarquitetura". Faleceu jovem, aos 35 anos e produziu uma grande obra. Foi convidade para a Bienal de São Paulo durante a Ditadura Militar e declinou, incitando os artistas a não participarem daquela edição.
  • Link: Splitting (1974) - Splitting
  • Chris Burden produziu várias performances e comercializava "relíquias" do trabalho. Em suas performances, desafiava os limites do corpo. Visualizamos algumas obras como "SHOOT", em que é fotografando atirando em aviões que decolavam, "Transfiz", em que é crucificado em um Fusca, e "Bean-drop" e "Sanson", expostos no Inhotim, Minas Gerais.
  • Ana Mendieta, artista cubana (1948-1985), foi casada com Carl Andre e produziu fotografias em que usava o próprio corpo como suporte. 
[1] DANTO, A. C. Após o fim da arte: a arte contemporânea e os limites da história. Trad. de Saulo Krieger, Posfácio à edição brasileira de Virgínia H. A. Aita. São Paulo: Odysseus, 2006. 292p.


Aula 6 - 12 abril 2017.
Nesta aula, abordou-se o Inhotim, museu de arte contemporânea localizado em Brumadinho, Minas Gerais. Considerado um dos dez museus de arte contemporânea mais importantes do mundo, Inhotim apresenta pavilhões para abrigar conjuntos de obras de cada artista, além de galerias. Em seus jardins projetados por Burle Max, encontramos diversos artistas que trabalham com a fotografia, como Miguel do Rio Branco, ou que utilizam a fotografia em sua obra, como Hélio Oiticica, em suas Cosmococas. Para melhor visualização do que representa esta instituição em termos de beleza, coleção de arte e tamanho, disponibilizamos abaixo um breve vídeo.

Link com vídeo panorâmico sobre Inhotim: Inhotim, Brumadinho, MG

Aula 7 - 19 de abril 2017
Esta aula reservou espaço para dois movimentos artísticos que se apropriaram da fotografia como um elemento presente na produção de suas obras: o Dadaísmo e o Surrealismo. Tanto o Dadaísmo quanto o Surrealismo foram movimentos de vanguarda do início do século XX, com origem na literatura. 

O primeiro movimento surgiu na Suíça, em Zurique, tendo o Cabaré Voltaire como local de reunião de seus integrantes, como os poetas Hugo Ball e Tristan Tzara. O Dadaísmo protestava contra a I Guerra Mundial (1914-1918). O movimento chegou até Paris e se tornou vanguarda, fazendo apropriações e por sua ação transgressora que contestava as convenções da Arte. Alguns dadaístas residentes em Nova Iorque foram Man Ray e Marcel Duchamp, com seu "Nu descendo a escada" (1912), que recebeu influências do Cubismo e do Futurismo; além da obra "O Grande Vidro" (1915-1923); "A Fonte" (1917) e L.H.O.O.Q. (1919). Man Ray produziu obras que retiravam a função original do objeto, com apropriações, para que se torne uma obra de contemplação estética, como seu ferro de passar roupa com pregos. Kurt Schwitters criou o "Merzbau", uma colagem feita no ateliê do artista entre 1924-1937. Em Berlim, o Dadaísmo se manifestou contra o regime nazista, com artistas como Hannah Höch, em Berlim, utiliza a foto montagem. John Heartfield também utiliza a foto colagem em obras como "Milhões que suportam" (1933) ou "Goring, o carrasco" (1933), nas quais satiriza o regime nazista e suas principais figuras. Raoul Hausmann produziu a "Cabeça mecânica", o espírito de nossa época (1920). Lissitzky produziu "O construtor" (1924).


O movimento perde força em 1924, com a publicação do Manifesto Surrealista, tendo como fundador, Andre Breton, que escreveu o 1º e o 2º Manifesto Surrealista, em 1924 e 1929; além de escrever os livros "Nadja" (1928) e "Vasos Comunicantes" (1932). O Surrealismo efetuou uma combinação do representativo, do irreal, da abstração e do inconsciente, libertando-se da lógica e da razão. O objetivo final era expressar o mundo do inconsciente. Entre os artistas surrealistas, destaca-se, primeiramente, Salvador Dalí, com duas obras clássicas: "A persistência da memória" (1931) e "A tentação de Santo Antônio" (1946). Outro artista relevante do movimento é Georgio De Chirico, com suas obras "Canção de Amor" (1914) e Mistério e Melancolia de uma rua" (1915). Max Ernst produziu obras polêmicas, como "A Virgem espancando o menino Jesus vigiada por três testemunhas" (1926), a saber: Andre Breton, Paul Eluard e Max Ernst. René Magrite é outro expoente do movimento, com obras emblemáticas: "Os amantes" (1928), "Tentando o impossível", "A traição das imagens" (1929), "Golconda (1953) e "A condição humana" (1935). Picabia apresentou uma paleta de cores pop - antes da Pop acontecer - em obras como "Cinco Mulheres" (1941-1943). Hans Belmer produziu bonecas anamórficas e fotografias. M. C. Escher foi outro artista do movimento surrealista, com suas escadas infinitas e efeitos visuais em suas obras. Philippe Haussman produz a fotografia "Dalí Atômico" (1948), uma foto-montagem.


No Brasil, Tarsila do Amaral foi influenciada pelo movimento do Surrealismo, dada suas viagens frequentes até a Europa e o convívio com alguns desses artistas. A pintora produziu obras icônicas, como "O Abaporu" (Malba/Buenos Aires) e "Ovo-Urutu" (MAM-RJ). Participou do Manifesto Antropofágico, onde o desenho do Abaporu foi publicado. Além dela, Maria Martins foi influenciada pelos surrealistas de Nova Iorque, produzindo a obra "O impossível III" (1948), hoje no acervo do MoMA. Jorge de Lima foi pioneiro nas foto-colagens entre 1930-40, como representante do movimento surrealista no Brasil. Publicou o livro "A pintura em pânico" (1943) e como poeta escreveu "O Grande Circo Místico". Athos Bulcão também produziu foto-colagens surrealistas. Fernando Mendes, em São Paulo, também produziu obras no contexto do movimento (1926).


Entre os fotógrafos franceses e norte-americanos que produziram obras surrealistas, destacam-se Eugène Atget (1857-1927), Henri Cartier Bresson (1908-2004), Brassai (1889-1984), com seu livro "Paris de nuit" (1933); Duane Michals (1932-), Ralph Gibson (1939-) e Jerry Uelsman (1934-).


Ao fim de nosso penúltimo encontro, assistimos a filmes - curtas - surrealistas de Hans Richter "Rhytmus 21" - Link: Rhytmus 21, de Maya Deren "At Land" (1944) - Link: AT LAND .

Aula 8 - 26 de abril 2017 
"DA ADVERSIDADE VIVEMOS". A partir desta frase, escrita por Hélio Oiticica no final do texto "Esquema Geral da Nova Objetividade" [1], escrito em 1967, que fizemos a discussão da última aula. Se no contexto da década de 1960, durante a ditadura militar, artistas visuais produziram uma tendência com ideias de vanguarda, movidos pelo inconformismo com o cenário social, político e ético, utilizando a obra de arte para "comunicar" de forma propositiva à grande massa; como nós, hoje, diante da adversidade, produzimos arte contemporânea? Guardadas as devidas diferenças e tempos históricos, o artista, enquanto ser criativo, sempre produzirá a partir da adversidade, uma marca da vida em sociedade. Cabe refletirmos como cada um lida com as adversidades em prol de sua produção artística.


Notas sobre o "Esquema Geral da Nova Objetividade", H. Oiticica, 1967.

O texto de Oiticica indica algumas características do que denominou a "Nova Objetividade", um movimento de vanguarda, convidado a produzir e comunicar de acordo com os seis pontos abaixo, a partir de uma arte que combatesse o conformismo com a situação política, econômica e ética da época:
  1. Uma "vontade construtiva", que defendia a valorização de características latentes da cultura brasileira, tal qual gerou o movimento antropofágico.
  2. Uma "tendência ao objeto", através da negação do cavalete, destacando a chegada do objeto em 1954, estando presente na Arte Concreta e Neoconcreta, por exemplo, nas obras de um primeiro grupo de artistas, como L. Clark, Ferreira Gullar, Hélio Oiticica, Antônio Dias, Rubens Gerchman, Pedro Escoteguy, Waldemar Cordeiro; e um segundo grupo, representado por Glauco Rodrigues, Zílio, Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Ivan Serpa , Willys de Castro e Wesley Duke Lee.
  3. Uma "participação do espectador" em oposição à ideia de contemplação transcendental da obra, na direção de uma participação por "manipulação" ou "sensorial", como nas obras propostas por L. Clark; além da participação "semântica", com os poemas-objetos de F. Gullar.
  4. Uma "tomada de posição" sobre os problemas políticos, sociais e éticos do país e do mundo, uma questão do campo criativo na década de 1960. Era necessário superar a abordagem "esteticista" da arte por outra, "engajada". O artista é um "intelectual" que deve participar de sua época.
  5. Uma "tendência à Arte Coletiva", através de atividades criativas propostas ao público e da possibilidade de pôr as produções individuais em contato com o público, o que remete à participação do espectador de forma relacional.
  6. O problema da "anti-arte", quando a necessidade maior deixa de ser "criar" para "comunicar" em grande escala, ou seja, o artista passa a ser um proposicionista, um educador.
[1] OITICICA, H. Esquema geral da Nova Objetividade. In.: FERREIRA, G; COTRIM, C. Escritos de artistas: 60/70. Rio de Janeiro, Zahar, 2006. p. 154-168.

Nenhum comentário:

Postar um comentário