24 de março de 2012

Notas sobre trabalhos da série "Janelas" [2012], exposta na Caza_Arte_Contemporânea/RJ

Em 2011, o processo criativo abordou práticas corporais de reserva masculina e feminina, explorando a polissemia produzida pela imagem, por interpretar que a produção de sentido se dá por uma lógica “aberta” e “plural” [1],  num processo de interlocução entre a intenção do artista, as contingências espaço-temporais e as condições de aprendizagem do espectador [2]. A partir dessa investigação, os trabalhos indicaram aberturas. A relação entre corpo, práticas corporais e masculinidades se modificou: uma vez que as imagens não eram provenientes de fotografias do contexto das práticas corporais; passaram de uma imagem em movimento/ação para outra estática/passiva, e apresentaram uma atmosfera introspectiva. Em virtude disso, o tema do “silêncio” foi assumido no final de 2011, como novo fio condutor do projeto, a partir de uma série de trabalhos com imagens de homens em reflexão.
Na série “Janelas” [s/ título, 21x29cm cada, 2012] - da qual os trabalhos da exposição "Afinidades: a escolha do artista", na Caza_Arte_Contemporânea fazem parte - o termo é utilizado em sentido figurado [abertura, rasgo, fresta] e os personagens de diferentes gerações surgem “vazios” [sem preenchimento], no contexto de uma arquitetura opressora, fria e silenciosa. Os ângulos desse espaço confinado variam, produzindo, por vezes, uma volumetria abstrata em decorrência da paleta de cinzas.
 Nesse espaço, o espectador identifica janelas não convencionais, posicionadas em diferentes planos, em locais e formatos que constituem uma triangulação, buscando expressividade. Tais janelas, azuis, estabelecem um diálogo entre os espaços interno e externo, a partir de “frestas”; ampliam a noção primeira de céu ou luz, podendo ser interpretadas como a própria morte, explorando a idéia de vanitas, passagem do tempo, transcendência e espiritualidade, produzindo ruídos na leitura inicial do espectador. Os trabalhos da série são realizados através da impressão com carbono e pintura guache sobre papel. Os personagens, sem identidade, apresentam-se como “esboços” de um estado de vazio existencial.


[1] DANTO, A. Arte sem paradigma [1994]. Arte & Ensaios. Rio de Janeiro. Ano VII, n. 7, p. 198-202, 2000.
[2] SIMÃO, L. V. Da prática da arte à prática do artista contemporâneo. Concinnitas. Rio de Janeiro, ano 6, v. 1, p. 142-157, 2005.

2 comentários:

  1. Me chamou muito a atenção, os personagens, a principio atentei para a identidade deles, estando eles num espaço difícil de ser.
    Parabéns Devide, gostei muito de seus trabalhos.

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  2. Obrigado Geh. Navegue pelas demais páginas e conheça as séries "Lutadores" [exposta no Galeria Café, 2011] e "Dançarinos" [em papel craft].

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