24 de outubro de 2010

CCBB: metáforas do masculino e feminino no ISLÃ

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB/RJ), está apresentando a exposição "Miragens". Com 58 obras de 19 artistas islâmicos contemporâneos, provenientes de coleções e galerias norte-americanas e européias, "Miragens" inclui vídeos, pintura, fotografia e objetos.
De forma geral, as obras confrontam os estereótipos que a cultura ocidental construiu sobre a oriental. Destaco, especificamente, alguns trabalhos que tematizam questões relacionadas à identidade masculina, como o mito do "herói", a guerra [violência] e a força física; e à identidade feminina, como o "silenciamento social" das mulheres na cultura islãmica.


SENER OZMEN
Supermuçulmano
 


LAILA SHAWA
Meninos soldados
 


KAMEL YAHIOUI
Os vigias [em memória de Tahar Djaout]
 




SHIRIN NESHAT
 


HALIL ALTINDERE
Miragens
[Da trilogia Mesopotâmia]






SHIRIN NESHAT
 

13 de outubro de 2010

O lúdico no brinquedo, na brincadeira, no jogo e no esporte na 29a BIENAL, 5a PARALELA e no MAM/SP

Associado ao brinquedo[1], à brincadeira[2], ao jogo e ao esporte, o “lúdico” tem como característica a espontaneidade, criatividade, alegria, prazer, fruição, presentes em práticas corporais diversificadas. Pode ser interpretado como uma manifestação cultural, inerente ao ser humano [não somente à cultura infantil], estando vinculado às práticas sociais, potencializando a existência humana e a sua comunicação com a realidade. A cultura lúdica tem sido extirpada da infância [e da vida adulta]. Da mesma forma, suas manifestações têm sido “controladas” e “confinadas” a tempos, espaços e práticas legitimadas e associadas ao consumo pela indústria cultural. Como a arte contemporânea pode resgatar a dimensão do lúdico na vida cotidiana [até mesmo no processo criativo]? Visitando a 29a Bienal de Arte Contemporânea e a V Paralela, em São Paulo, causou-me surpresa a presença de alguns trabalhos que utilizaram o brinquedo, a brincadeira, o jogo e o esporte como tema central ou secundário, resgatando um pouco da ludicidade necessária. Seguem as imagens.


[1] Objeto com dimensão material, suporte da brincadeira, que estimula o imaginário.

[2] Ação que a criança desempenha sobre o brinquedo



Leonilson, Brasil, 1990
DAS TRÊS ARMAS [do vôlei, do futebol]





Moshekeua Langa, África do Sul, 2005-2006
SEM TÍTULO




Carlos Garaicoa, Cuba, 2009
LAS JOYAS DE LA CORONA (Estadio de Chile)




Rosângela Rennó, Brasil, 2010
MENOS VALIA [troca-troca na Pça XV, Rio de Janeiro]






Alessandra Sanguinetti, Estados Unidos, 2010
LAS AVENTURAS DE GUILLE Y BELINDA Y EL ENIGMÁTICO SIGNIFICADO DE SUS SUEÑOS
 

Marcelo Amorim, Brasil, 2010
da série INICIAÇÃO
  


Claudio Perna, Itália, 1979
FOTOGRAFIA ANONIMA DE VENEZUELA
 

Lais Myrrha, Brasil, 2010
PÓDIO PARA NINGUÉM
 

Marina Rheingantz, 2010
OBERHOLZ
 

Marcelo Amorim, Brasil, 2010
Da série INICIAÇÃO
 

Ernesto Neto, Brasil, 2010
DENGO

Ernesto Neto, Brasil, 2010
DENGO
 

Palle Nielsen, Dinamarca, 2010
O MODELO









  



7 de outubro de 2010

Notas sobre "Processo Criativo" III

Criadores fazem algo que inaugure uma nova linguagem e que a sua platéia vai questionar: “-Eu já vi isso?” Ícones que levaram a sua linguagem às últimas conseqüências modificaram a linguagem da área, “sacudindo” as certezas.

Uma carreira demonstra a capacidade de redefinir-se. Pode-se avaliar o impacto da obra de um artista a partir da sua capacidade de “voltar-se para o escuro”, redefinindo-se, valorizando a vulnerabilidade das novas informações na carreira.

O processo de categorização pode tornar-se um bloqueio à criação. Uma obra que resiste à nomeação/classificação prende a atenção e perturba o sistema de categorias, ficando “suspenso entre duas categorias”.

Bons artistas sabem que suas escolhas têm conseqüências. É preciso pensar na intenção e na intenção retroativa [realizada após a experimentação]. O processo criativo não funciona por exclusão de planos previamente construídos, mas por experimentação e retroalimentação. Pressupõe olhar o mundo de forma menos passiva, olhando para o óbvio e enxergando outras possibilidades.

A arte não compete com a realidade, mas deve nos fazer pensar sobre o que nos esquecemos dela.

O criador produz trabalhos que aumentam a espessura do presente pelo processo de “saturação”. Distendem o momento do agora, em detrimento de viver do passado ou projetando o futuro.

Se o artista é incapaz de se distanciar e analisar o seu trabalho, não terá capacidade para crescer e progredir. O criador sente-se confortável em se sentir aquém em algumas áreas, percebendo o quanto ainda pode se desenvolver.

O bom artista expõe seu trabalho como conseqüência do mesmo. Aquele que se esforça no processo de produzir a obra com o objetivo de expô-la, trabalha na ótica da ”finalidade” e não da “conseqüência”.

Pessoas criativas tiveram a “ingenuidade” de pensar que poderiam fazer algo que teria impacto sobre a realidade. Foram curiosas e motivadas intrinsecamente, redefinindo-se em constante processo de acumulação.

6 de outubro de 2010

Notas sobre "Processo Criativo" II


A motivação intrínseca é importante para o ato criativo. O criador deve procurar uma área de atuação que traga significado, entusiasmo e motivação para “fazer a diferença” e provocar mudança na linguagem da área.

Há uma tendência em mantermos o que estamos fazendo no mesmo patamar/padrão até que alguém faça a diferença, provocando a mudança. Na verdade, não fazemos muita coisa porque desistimos ao não confiarmos em nós mesmos e esperarmos a aprovação do olhar do outro.

Durante o processo criativo, há desconforto e infelicidade na maior parte do tempo. A recompensa é o prazer da descoberta. Para isso, deve-se exercitar a "rebelião", recusando-se a repetir todos os dias, as mesmas regras. Acertar sempre seria morte do processo criativo.

Há um momento no qual o artista precisa afastar-se e olhar o seu trabalho de fora, afastando-se da sua excessiva subjetividade, transformando a experiência. Nesse momento, é relevante recorrer ao olhar do outro.

O artista não tem controle sobre os sentidos produzidos pela obra, o que não significa que o artista ou o observador são ruins porque encontram/produzem sentidos diferentes. O leitor é fundamental para o “acontecimento” da obra.

No processo criativo, é preciso uma “faísca” para a produção da nova idéia. Nesse contexto, o olhar do outro e o aleatório são importantes. Ao esgotar o seu repertório, o artista deve fazer novas inserções de idéias, a partir de um processo anárquico de absorção de novas informações. Reinventar-se é importante para continuar criando.

Na arte, ao invés de dar um “grito no escuro” sobre as suas angústias, o artista deve construir uma linguagem pessoal relacionada à obra. Nenhuma arte meramente pessoal é arte. No máximo será uma arte terapêutica, que não terá fôlego para se tornar uma grande arte.

 

5 de outubro de 2010

Notas sobre "Processo Criativo" I

As notas abaixo listadas são fruto de parte das anotações realizadas em 2009, na ocasião do curso "Processo Criativo", com o professor Charles Watson, na EAV/Pq Lage. Sem o intuito de concordar/discordar das mesmas, as compartilho com os leitores/as para convidá-los/as a refletirem sobre seus próprios processos.

O processo criativo pressupõe a capacidade de transitar entre os pólos objetivo e subjetivo. É preciso “estranhar” o que se está fazendo e dar espaço para a “surpresa” no fazer artístico.

O artista tem êxito quando transforma a linguagem do “eu” numa linguagem universal: a obra “acontece”.

Pessoas com medo têm pensamentos sabotadores. Errar é fundamental, pois dar conta das imperfeições nos faz caminhar. A perfeição é a morte e a instabilidade é importante para produzirmos.

Pessoas curiosas superam as "normas" de seu pensamento com mais criatividade, gerando coisas novas, utilizando/coletando informações no cotidiano, a partir de um processo “anti-entrópico”, onde não há estabilidade; como o desconforto do artista durante o processo criativo.

A pessoa criativa tem capacidade de análise, interpretação, avaliação, curiosidade, experimentação, e da instabilidade constrói coisas novas. O papel do criador é “solucionar problemas” a partir do “desconforto” e da instabilidade.

O processo criativo depende de: 1. uma linguagem simbólica; 2. uma pessoa ou grupo que produz algo diferente nessa linguagem (a coloca em crise); e 3. um grupo de peritos que interpreta e incorpora e endossa o novo.

A pessoa criativa preocupa-se com a linguagem por estar imersa nela. Nesse caso, não produz para a platéia comum, mas para aqueles/as que têm conhecimento específico para "ler" sua obra.

Às vezes, estragamos um trabalho por afetos a questões do trabalho que não são importantes para o todo. O trabalho cria densidade com base na experiência, o que presupõe, também, a possibilidade de sua desconstrução e reconstrução permanentes.